Líderes tribais usavam as forças dos grupos para finalidades de cura e mesmo para buscar promover saúde mental.
Na Idade Média, muitos mosteiros promoviam atividades grupais para melhorar casos de distúrbios mentais.
Mesmer, na Alemanha, por volta de 1740, fazia sessões de hipnose grupal, visando a melhora de pacientes com doença mental. É o fundador da teoria do magnetismo animal , que recebeu o nome de mesmerismo.
Já a terapia grupal como algo profissionalmente orientado para tratar das doenças mentais , foi uma invenção americana do século XX. Considera-se o inventor da psicoterapia de grupo o americano Pratt, que em 1905 teve a idéia de agrupar seus pacientes tuberculosos e explicar em conjunto a doença, o tratamento, os cuidados de higiene necessários e observou uma grande melhora. Isto ainda não era uma psicoterapia analítica de grupo, mas se aproximava um pouco das técnicas ainda hoje utilizadas pelo AA ( alcólicos anônimos) e WW ( Vigilantes do peso). Eram conferências e aqueles que desempenhavam melhor eram premiados.
Em 1922, um americano, fundador da Sociedade Psicanalítica Americana, abandonou o divã e iniciou a trabalhar com pequenos grupos. Fazia debates ao ar livre, convidava familiares para participarem destas conversas, Ele visava, nestas reuniões investigar mais profundamente o comportamento social. Este foi Trigant Burrow. Depois de um tempo ele inventou um jeito de mensurar reações cinestésicas e por causa dessa iniciativa perdeu sua filiação à Sociedade de Psicanálise.
Foi nos Estados Unidos, na década de 1930 que teve início a utilização de pequenos grupos , de maneira planejada, para o tratamento de patologias da personalidade. Os pioneiros foram Luis Wender e Paul Shilder. Foram eles que começaram a usar a transferência e os sonhos como ferramentas.
Slavson criou as origens da terapia de grupo infantil. Desenvolveu grupos de atividade onde estimulava a expressão de fantasias e sentimentos através do brincar coletivo. Oferecia às crianças jogos, brinquedos, ferramentas.
Contemporâneos a Shilder são Slavson, Moreno e Alexander Wolf. Nesta ocasião, Wender começou a trabalhar com grupos de pacientes internados.
Jacob Levy Moreno, que nasceu na Romênia e viveu na Áustria, na década de 1920, já utilizava, nesta época um método que chamou de Teatro da Espontaneidade, em que usava técnicas dramáticas. Foi só 10 anos depois, já nos Estados Unidos, que começou a utilizar esses recursos como método terapêutico .
Fritz Redl foi muito importante. Era vienense, mas quando chegou aos Estados Unidos desenvolveu trabalhos de grupos pioneiros com crianças com perturbações graves e propagou a aceitação da terapia de grupo.
O primeiro, nos Estados Unidos, a aplicar Freud na terapia de grupo foi Alexander Wolf, na década de 1930. Usou associação livre, análise da transferência e da resistência. Ele alternava sessões com terapeuta e sem terapeuta.
A II Guerra Mundial (1939-1945) impulsionou o desenvolvimento da psicoterapia de grupo. Havia muita gente desequilibrada e poucos médicos para tratá-los. Alguns teóricos que iniciaram naquela época como médicos militares, acabaram se tornando importantes psicanalistas e fundadores da psicoterapia de grupo na Europa. Nesse âmbito podemos citar Foulks e Anthony, Bion, Alexander Wolf e outros. Assim, nasceram , então, as duas mais importantes associações de psicoterapia de grupo: a Sociedade Americana de Psicoterapia de Grupo e Psicodrama, fundada por Moreno e a Associação Americana de Psicoterapia de Grupo, fundada por Slavson.
Até agora, contamos a história, mas faltou uma definição do que é uma psicoterapia de Grupo. São métodos de tratamento baseados na utilização dos fenômenos psicológicos que ocorrem quando as pessoas se juntam, passando a ter objetivos, valores, interesses e relações recíprocas.
Me agrada a definição de que o grupo terapêutico é aquele em que dentro de cada integrante forma-se uma fantasia sobre o grupo , como um todo, e cada um carrega dentro de si o seu próprio grupo.
Vale à pena salientar que grandes realizações se concentraram nos Estados Unidos porque muitos dos teóricos da época, oriundos da Europa, eram judeus e, devido à perseguição nazista, um grande número fugiu para lá. Houve também uma parte que se deslocou para a Inglaterra.
Na Inglaterra, já desde 1920, após a Primeira Guerra Mundial, havia sido fundada por Hugh Crichton Miller a, até hoje famosa, Tavistok Clinic, destinada ao tratamento das síndromes pós-guerra. O tratamento se estendeu aos delinqüentes e aí se praticava, além da terapia individual, a psicoterapia grupal. Um teórico importante neste âmbito foi Bion, que, na década de 1940 desenvolveu conceitos até hoje fundamentais para a psicoterapia psicanalítica de grupos. Na mesma época Balint lá praticou a técnica de grupos e Bowlby introduziu a terapia familiar. Contemporaneamente Foulkes e Anthony tiveram importante produção teórica na esfera das psicoterapias analíticas de grupo, fazendo escola, acrescentando novos conceitos ao que já havia sido proposto por Freud. Tanto Freud como Melanie Klein nunca clinicaram atendendo grupos, mas seus conceitos estão na base da teoria dos grupos, em alguns casos também chamada de grupanálise. Algumas obras de Freud são consideradas de Psicologia Social, como Totem e Tabu, Psicologia das Massas e Análise do Eu, Moisés e o Monoteísmo. Não apenas estas obras, como também conceitos como transferência, inconsciente, de Freud e fantasia inconsciente, identificação projetiva, inveja e gratidão, de Melanie Klein, fazem parte da teoria de grupos, quando de orientação psicanalítica.
Na década de 1950, da íntima relação de Portugal com a Inglaterra, resultou que o psicanalista Luiz Eduardo Cortesão foi fazer formação com os pioneiros britânicos e levou para Portugal o conhecimento ao qual ele agregou novas formulações e assim nasceu a grupanálise portuguesa que teve sobre o Brasil forte influência. Psicanalistas brasileiros interessaram-se pela sua produção teórica e fundaram-se no Brasil diversas Sociedades de Psicoterapia Analítica de Grupos: em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Porto Alegre, e outras cidades importantes. Destacaram-se por aqui Blay Neto, Miler de Paiva, Nelson Pocci, Odilon de Melo Franco Filho, Alcion B. Baia, David Zimerman. No Brasil também foi forte a influência de um conjunto de analistas de grupo argentinos, dentre eles Marie Langer, Emílio Rodrigué, sem contar o renomado fundador do freudismo argentino Enrique Pichon-Rivière, que após fazer parte da fundação da Asociación Psicoanalítica Argentina, em 1942, dela afastou-se em 1959, para, sob múltiplas influências, orientar-se para diversas formas de práticas de grupo, tendo criado em 1947 o que chamou de grupo operativo, visando a tratar de angústias ligadas à vida social e institucional.
A psicoterapia psicanalítica de grupo vem sendo praticada no Brasil desde a década de 1950, tendo sido muito valorizada na década de 1960, quando foi fortemente prejudicada pela ditadura, que desestimulava e até proibia atividades grupais. Permaneceram, no entanto, vivas as várias associações de grupo que voltaram a ganhar vitalidade e hoje são muito produtivas, realizando trabalhos em clínicas, escolas, empresas, hospitais.
Estudam-se, hoje, no Brasil, os teóricos franceses, como Didier Anzieu e seu discípulo René Kaes e uma gama de teóricos argentinos que na década de 1990 fundaram uma nova escola, a da Psicanálise das Configurações Vinculares, que aborda sob ótica psicanalítica o estudo e o atendimento de grupos, famílias, casais e instituições. São personagens relevantes desta Escola, Janine Puget, Isidoro Berenstein e Marcos Bernard, entre outros.
Hoje, no Brasil, diversas instituições estudam e praticam a grupanálise e a Psicanálise das Configurações Vinculares.